Do Mundo das Terapias para o Mundo das Viagens. Que viajar é uma terapia já não se discute, dado que já foi provado pela ciência. Agora vem comigo que vou lhe mostrar o que as viagens podem trazer para a sua, para a minha e que trouxe para a vida da linda Luna e sua família.
Somos seres especiais, nascemos para inspirar e ser inspirados. Este é mais um daqueles textos que têm tanto amor, que ao terminar de ler a sua vontade de abraçar e beijar as pessoas que ama estará potencializada.
Mas saiba que trago também informações baseadas em artigos científicos, afinal só removemos um “pré-conceito”se tivermos conhecimentos novos para criar um novo conceito.
Há um tempo, eu estava buscando informações sobre pessoas que viviam sobre rodas, ou seja, num MotorHome, pois era algo que eu queria muito fazer. Isso mesmo, eu queria viver no mundo das viagens. Afinal, deve ser muito prazeroso desfrutar da liberdade de ir e vir. Assim, comecei a passear por perfis no Instagram.
Nesta busca, uma família ganhou o meu coração e apreço. Foi a família da Luna e não porque viajavam num MotorHome, mas porque o olhar dos seus pais para ela me encantaram. Era um olhar que transbordava amor.
Por que esse olhar me encantou?
Porque era o olhar que eu muitas vezes gostaria de ter recebido na infância, o olhar do verdadeiro amor incondicional.
Esse é o olhar que eu busco diariamente dar aos meus filhos, mesmo que não o tenha conseguido oferecer, ainda, em tempo integral, afinal fomos educados a seguir padrões de comportamento. E manter a consciência 24 horas por dia é mesmo uma tarefa difícil, mas possível com a prática.
Quando desejamos algo, observamos ao máximo para aprender e fazer igual ou o mais próximo daquilo. Assim, acompanhei por vários meses as postagens da família e fiquei conhecendo, virtualmente, um pouco da história deles. Até que um dia eu entrei em contato com a Fábia, mãe da Luna, para ver a possibilidade da história deles vir parar aqui no Agarre o Mundo.
Conversamos pelo telefone, ficamos um bom tempo nos falando e eu simplesmente desliguei com a sensação de que não era a mesma pessoa. E a partir dali, seria mesmo uma outra mãe, um ser humano melhor.
Hoje, com conhecimentos adquiridos com a neurociência e sobre a neuroplasticidade, sei que mudamos a nossa estrutura diariamente. De fato, não sou a mesma de ontem e, certamente, você também não será a mesma pessoa, após essa leitura.
Calma, vou dar aqui uma breve explicação sobre neuroplasticidade, porque assim entenderá o texto mais para frente, quando eu contar a história da menina Luna e sua família.
O Mundo das Viagens e a Neuroplasticidade
Não tenho a intenção de escrever um artigo científico aqui, mas esse conhecimento poderá mesmo mudar a sua forma de pensar e agir.
Me responda uma pergunta: Você pensa e se comporta da mesma forma que os seus pais e concorda com eles em tudo até hoje?
Provavelmente não. Isso acontece porque, com o tempo e com as nossas vivências, adquirimos novos conhecimentos e mudamos a nossa maneira de pensar. O cérebro vai registrando as novas informações e se adaptando. A esse processo de adaptação dá-se o nome de neuroplasticidade.
Você pode estar pensando: e como isso pode mudar a minha vida? Sabendo que você é capaz de mudar e ativar, por vontade própria a neuroplasticidade, tornando-se uma pessoa melhor ou a sua melhor versão a cada novo dia.
Essa é uma característica do sistema nervoso, que é essencial não apenas para formar novas opiniões, mas também para, por exemplo:
- aprender novos conteúdos;
- descobrir e realizar novos movimentos durante a prática esportiva;
- desenvolver a leitura;
- ressignificar crenças e assim ver a luz onde na sua vida tem apenas sombras;
- regenerar tecido nervoso danificado.
Agora vamos conhecer a Luna e sua família
A Luna é uma adolescente, hoje com 14 anos (Março de 2022), que nasceu prematura (30 semanas). Com um mês de vida, ela teve uma hemorragia cerebral que afetou a sua parte motora, mas mantendo preservada a parte cognitiva.
A ocorrência destes eventos, com toda a certeza, fez com que a vida da família virasse de cabeça para baixo. Muitas inseguranças e muitos questionamentos foram surgindo.
Fábia parou a sua vida profissional para cuidar da Luna e diariamente vivia com o medo ao seu lado, já que a pequena teve muitas crises convulsivas até os seus 3 anos de idade.
O simples ir de um bairro a outro para uma festinha envolvia toda uma logística, como informações onde ficava o hospital mais próximo. Além disso, estudavam que caminho deveriam seguir para chegar lá o mais rápido possível caso fosse necessário.
O Preto, pai da Luna, conta que a primeira vez que ela teve uma convulsão, ele quase invadiu o saguão do hospital com o seu carro, com medo de que algo pior acontecesse com a filha.
Com o tempo e com a quantidade de vezes que buscaram auxílio médico, acabaram aprendendo a lidar com o medo. Assim, começaram agir de maneira mais confiante e com mais segurança.
Por que a vida deveria seguir um padrão? Vamos viajar de bike com a Luna?
Isso mesmo, que tal ir do mundo das terapias para o mundo das viagens?
Certamente o impacto desse diagnóstico foi um momento difícil, gerando sentimentos de culpa nos pais. A família vivencia o medo frente ao desenvolvimento motor do filha e também frente as mudanças na dinâmica cotidiana.
Por sorte, dois fatores ajudaram o Preto e Fábia a se adaptarem à nova situação: a fé e o amor a filha.
Após os 3 anos, as crises da Luna desapareceram e eles, juntos, aprenderam a lidar com toda a situação. Não preciso dizer o quanto eles modificaram a forma de pensar e ver o mundo.
Surgiu então, a ideia de fazer uma viagem de bike pela Europa, claro que incluindo a Luna. Muitos questionamentos apareceram, inclusive da Fábia, sobre a adaptabilidade da Luna. E para cada pergunta, “E se?”, o Preto pensava num plano B.
Por exemplo, e se a Luna não se adaptar? Plano B: despachamos as bicicletas e passamos trinta dias viajando. Após vários planos B, eles viajaram. De fato, nenhum destes planos precisou ser acionado. Mas o simples fato de existirem, deu a eles segurança para EXPERIMENTAR.
Antes de continuar, saiba que eles foram com uma grande rede de apoio por trás e cientes, que talvez a Luna tivesse um certo retrocesso, de acordo com a opinião dos médicos, já que estaria longe das inúmeras sessões de terapias.
O que realmente aconteceu?
Lembra da neuroplasticidade? Vamos ver como ela atuou na vida da Luna? O que o mundo das viagens fez pela Luna.
A neuroplasticidade permite a regeneração dos neurônios e ativa a criação de conexões sinápticas, ou seja, controla todas as nossas funções cognitivas, tais como atenção, memória, linguagem, percepção, entre outras.
Para surpresa dos médicos e terapeutas e, para a felicidade dos pais e familiares, a Luna voltou outra criança dessa viagem. Mais participativa, comendo comidinhas não tão líquidas e com uma movimentação mais ativa dos braços.
Isso aconteceu porque, não apenas os seus pais foram desafiados, mas também a pequena Luna, promovendo assim várias novas conexões neurais. E a cada desafio ela respondia melhor, sem falar que passar 30 dias, 24 horas por dia com os pais fortaleceu suas conexões emocionais.
Seus pais perceberam que não precisariam ser tão super protetores, começaram a não subestimar aquela criança, forte por natureza, que aprendeu desde cedo a lutar pela vida.
Do Mundo das Terapias para o Mundo das viagens
A vida da Luna seguiu baseada em terapias todos os dias. Mas a Fábia e o Preto começaram a ver outras possibilidades de vida, já que as experiências da pequena viajante trouxeram tantos benefícios.
Então, o “E se?” saiu do campo negativo e passou a atuar no campo positivo. “E se começássemos a viajar mais com ela?”, ” E se morássemos numa casinha que anda?”
Assim, o sonho foi se desenhando e em 2020, com tudo arrumado, começaram um nova fase da vida deles, viajar pelo Brasil, num MotorHome, num projeto chamado Brasil Especial.
Quantas mudanças e benefícios um simples mudar de quintal, mudar de ambiente, fazer trilhas, ter contado com a natureza e buscar atividades de aventura trariam a linda Luna? Ou seja, viver no mundo de viagens e quem sabe viagens pelo mundo.
Os pais passaram a ser os responsáveis pela reabilitação da Luna. Mas, de repente, veio a pandemia e assim, as terapias que eram sempre presenciais, passaram a ser on-line, aumentando ainda mais a rede de suporte deles.
Já que agora, a Luna tem diariamente a presença novamente dos seus terapeutas através de uma tela. Com toda a certeza esse apoio e suporte tem ajudado para que tudo seja muito mais leve.
Será que o mundo das viagens e tudo lindo? E o Preconceito?
O diferente, o desconhecido causam no ser humano certa curiosidade e, muitas vezes, esse age de maneira grosseira, mesmo que sem intenção. De fato, essa atitude é vista e nomeada, talvez de forma errônea, como Preconceito. Eu chamaria de desconhecimento.
Significado de Preconceito: é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento crítico ou lógico.
Fábia me falou: “Eu tinha duas opções, chorar a vida toda, no papel de coitada, ou ser feliz. E eu decidi ser feliz.”
Eu lhe perguntei na sequência como lida com o preconceito relacionado com essa decisão de ser feliz, já que ter uma filha diferente atrai certamente olhares do tipo: “Você tem um “problema” e deve sofrer com ele.”
Ela me contou que primeiramente aprendeu a lidar com a sua postura diante da situação, removendo inicialmente dentro dela as ideias e crenças sobre os padrões que a sociedade impõe. Ou seja, sobre como ela deveria se posicionar diante da situação.
Assim, tanto ela, quanto o marido, tornaram-se pessoas mais compreensivas e mais tolerantes. De fato, quando algo está bem resolvido dentro de você, o que vem do outro não lhe afeta.
Hoje eles veem o preconceito como falta de educação, de informação e seguem mostrando às pessoas que a Luna é uma criança como todas às outras, que tem sentimentos e necessita da mesma apreciação como todas elas.
Como eles têm educado e modificado as pessoas?
Como disse anteriormente, o preconceito parte de uma desinformação. As pessoas olham muitas vezes de maneira grosseira, vão até eles e perguntam o que a Luna tem. A Fábia conta de forma divertida, que muitas vezes essa pergunta a faz parar e pensar o que a Luna tem. Talvez um MotorHome?
Mas, para mim, a melhor e mais completa resposta seria: A Luna tem AMOR. Se você tiver o prazer de acompanhar essa família pelas redes sociais perceberá quanto amor existe ali. O olhar do Preto e da Fábia para a Luna não é de cuidado ou super proteção e, sim, apenas do mais puro amor.
Eles se olham com tanta conexão que não tem como passar desapercebido pelos olhos de quem assiste. Esse amor que eles exalam toca profundamente alguns pais, que deveriam ter esse vínculo com seus filhos, mas não o têm.
A maneira leve como eles caminham pela vida, ensina que o melhor da vida é viver o hoje sem tantos planos. Que dificuldades todos nós temos, mas a decisão de como você vai se posicionar diante delas é apenas sua.
Eles muitas vezes “educam” os pais através das crianças, pois estas querem saber porque a Luna não anda e não fala. Então, a Fábia gentilmente explica que ela fala com os olhos e entende quando a criança fala com ela. E assim, as crianças conversam e começam a interagir com a Luna.
De fato, essas trocas são de grande importância para todos os envolvidos. Para quem educa, para quem é “educado” e também para Luna que vai aumentando a sua neuroplasticidade através da conexão em amor.
Aprendizado que a Luna nos traz
A família de Luna acreditava no início desta caminhada, que eles mudariam o estilo de vida para proporcionar vida a Luna. Hoje eles têm a plena convicção que foi a Luna quem lhes trouxe a vida.
Foi através dela que eles curaram suas dores e começaram a viver. Ter vida plena, diferente da vida “normal” e que seguem os padrões que a sociedade impõe e nos impedem de ter.
Que ao invés de terem apoio, eles não só apoiam, como também, inspiram.
Gratidão Fábia, Preto e Luna, por compartilharem a história de vocês. Que possamos evoluir para também nos tornarmos pessoas melhores, sem prejulgamentos e gratos pela vida que criamos.